sábado, 17 de maio de 2008

Texto retirado da coluna do Mauro Beting. Seu título é "Entrevista coletiva do técnico derrotado no clássico".

Genial:

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Enquanto isso, no vestiário do time derrotado...

- Professor! Aqui, no fundo... Rádio Difusora de Presidente Timóteo! Por gentileza: o senhor acredita que a derrota por 6 a 1 se deveu à marcação que não encaixou? Faltou mais pegada e determinação para os seus comandados, apesar do excelente trabalho durante a semana?

- Veja bem... Não gosto de falar de arbitragem. Não costumo reclamar dos árbitros. Mas que eles realmente prejudicam o espetáculo, são incompetentes, amadores - para não dizer mal-intencionados e venais! -, isso eles são. Mas, como eu disse, não costumo reclamar desses safados do apito. Embora, hoje, na minha avaliação, os seis gols do adversário foram irregulares. E pelo menos quatro pênaltis ele deixou de marcar para nós.

- Professor, o senhor vai punir Motociclayton, que chutou seis vezes a cabeça do goleiro adversário quando ele estava no chão?

- Não. Esse é um assunto interno. Só não entendi ainda o porquê do árbitro ter expulsado meu atleta. Era um lance difícil, de interpretação. Não vi o Clayton com intenção de agredir o adversário. Foi apenas uma disputa de bola. Até porque o adversário não morreu, pelas informações que recebi agora, do hospital. Foi um lance de jogo, normal. Quem disse que foi violento ou caso de polícia não entende de futebol e nunca chutou uma bola na vida.

- Professor, o senhor se arrepende de ter dado uma tesoura voadora na nuca do árbitro?

- Claro que não. Hoje, no futebol, o árbitro é intocável. Não podemos nem reclamar com ele, muito menos xingá-lo de idiota, cego, ladrão, filho daquilo. Onde vamos parar? Só fui conversar com ele, pedindo para ele mudar de profissão e de país, e ele me expulsa!? Como pode? A minha reação foi a de qualquer profissional sério que trabalha a semana toda com afinco. Não tive intenção de machucá-lo com o meu gesto. Apenas queria que ele me ouvisse. Tanto é que ele realmente falou comigo antes de desmaiar. Veja bem: ele se recuperou meia hora depois.

- Professor, depois da décima derrota seguida, com um saldo negativo de 43 gols, o senhor acha que apenas a arbitragem está contra a sua equipe?

- Claro. Estamos fazendo um excelente trabalho. Tivemos pouco tempo para treinar. Em dez meses não se forma uma equipe. Ainda mais com a arbitragem jogando contra, a federação não dando bola para os nossos protestos, e a imprensa contra o meu trabalho e o nosso time. Mas, tudo bem. Ao menos eu assumo nossos erros.